Democracia e os desafios do jornalismo digital
Os desafios e potencialidades do jornalismo na era digital e seu papel na democracia foram apresentados ontem na ECO/UFRJ na palestra do jornalista Edwy Plenel,cofundador e presidente do Portal Mediapart.
Tendo atuado no Le Monde por 25 anos, Plenel contou detalhes de sua vasta experiência, destacando a migração do impresso para o digital. Diante do cenário atual, marcado por forte polarização nas redes sociais,discursos de ódio e desrespeito ao pluralismo de ideias e visões de mudno, o jornalista acredita que a profissão precisa se reafirmar como o ‘coração da democracia’.
Em tempos de mídias digitais, em que há vários polos emissores e opinião e informação disputam espaço, o jornalismo deve resgatar o caráter de ineditismo, interesse público e o valor-notícia para reconquistar os leitores. “No Mediapart, não querems ser donos da verdade, não somos isentos. Temos um modelo de negócio participativo, não estamos acima do público”, afirma.
Pós-verdade e a era da opinião
Na maré da pós-verdade, Plenel destaca que a maior batalha não é só pela publicidade e pelo modelo de lucro baseado em cliques, mas também em cativar os leitores. Se por um lado a revolução tecnológica possibilitou mudanças socioculturais e econômicas, ela também fez emergir o que o jornalista francês chamou de “era da opinião”.
“Essa profusão de opiniões está desfocando a atenção da qualidade da informação para a quantidade. Lemos tantos conteúdos que pensamos ser gratuitos,quando nossa atenção é a moeda de troca”, problematizou.
Fake news não é novidade
Nesse campo de batalhas do jornalismo digital, Plenel considera errôneo dizer que as fake News são novidades. Para ele, as notícias falsas sempre existiram, influenciaram guerras e questões políticas. Na verdade, o que mudou foi a potencialidade que as redes sociais e os mecanismos de busca trouxeram, aumentando o alcance e visibilidade desses rumores.
“O caráter pluralista e democrático da mídia, seja impressa ou digital, não pode ser gangrenado pela ditadura do like, do conteúdo para fruição, dessa lógica de piada e diversão. Duas palavras são chaves do sucesso dos novos tempos: aliança e confiança. Sem isso, somos apenas mais um veículo no meio de tantos”, reforçou.
Jornalismo participativo
Em termos de jornalismo participativo, Plenel acredita que é muito importante que os novos sites e portais criem espaços para que o público envie suas contribuições. “Não se trata de emitir verdades, mas de mostrar as versões para que o público tenha seus próprios debates, respeitando o contraditório e visões distintas”, concluiu.
Ele terminou sua apresentação mostrando entusiasmo diante dos nichos e oportunidades que o digital oferece. “Você pode se especializar em um conteúdo bem checado sobre saúde e buscar ser lido pelos médicos de referência. Ainda há espaço para a mídia independente, então, é preciso convicção no nosso papel de elevar o debate público”, concluiu.
O portal de jornalismo independente Mediapart pode ser acessado pelo link https://www.mediapart.fr/
Texto: Isabela Pimentel
*Jornalista, Historiadora e Especialista em Comunicação Integrada
Imagem: Divulgação
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